Introdução
Você já deve ter ouvido falar sobre a cultura maker, certo? Mas será que entende o real significado desse movimento e o imenso potencial de transformação que traz para a educação?
Neste artigo, vamos desvendar tudo sobre o universo maker e como ele pode revolucionar a forma de aprender e ensinar.
Cultura Maker: o que é e por que é fundamental para a educação
Vamos começar pela origem do termo. Maker vem do verbo make em inglês, que significa fazer, construir, produzir. Então maker é aquele que faz, um “fazedor”, uma pessoa que constrói coisas com as próprias mãos.
A cultura maker surgiu nos anos 2000 como uma evolução de movimentos como o DIY (faça você mesmo) e o movimento Arts & Crafts, levando adiante essa mentalidade de criar seus próprios objetos de forma independente e criativa.
Mas a tecnologia se faz muito presente: a cultura maker incentiva o uso de ferramentas digitais, equipamentos eletrônicos e máquinas para prototype rápido durante o processo de criação.
Porém, essas não são essenciais: projetos manuais, artísticos e artesanais também têm muito espaço.
Essa filosofia maker é pautada por 4 princípios fundamentais:
- Criatividade:
Para gerar soluções originais é preciso muito pensamento não-linear, ou seja, conseguir enxergar possibilidades que fogem do óbvio.
Isso requer grande flexibilidade mental, curiosidade e disposição para experimentar diversas alternativas antes de encontrar aquela que realmente funciona e inova.
- Colaboração:
A inteligência coletiva costuma superar a individual. Grupos diversos, que unem pessoas com diferentes experiências, conhecimentos e perspectivas, alcançam ideias muito mais ricas do que mentes isoladas.
A cultura maker incentiva essa troca horizontal de saberes, onde não há detentores do conhecimento, e todos ensinam e aprendem uns com os outros.
- Escalabilidade:
Para causar impacto, as soluções maker não podem ficar restritas a um produto único.
Elas precisam ser pensadas como inovações passíveis de serem replicadas em escala, seja produzidas em série ou compartilhadas digitalmente para que outras pessoas também possam aplicá-las.
Isso também está relacionado a garantir eficiência de custos.
- Sustentabilidade:
Os projetos maker envolvem o reaproveitamento criativo de tudo que está disponível, transformando aquilo que para muitos era lixo ou refugo em novas possibilidades.
Além disso, a mentalidade maker incentiva consertar e melhorar ao invés de simplesmente descartar e comprar o novo. Dessa forma, cada pessoa pode gerar valor e impacto positivo com os recursos que já possui em mãos.
História do movimento maker
A popularização do termo veio com a criação da Revista Make em 2005, por Dale Dougherty. A publicação trazia uma série de projetos hands-on, onde os leitores podiam construir eles mesmos os produtos.
O sucesso foi tanto que no ano seguinte aconteceu a 1ª Maker Faire – uma enorme feira para reunir os entusiastas maker, que já se espalhou em dezenas de países, inclusive o Brasil.
Paralelamente, surgiam pelo mundo diversos FabLabs e Makerspaces: espaços físicos compartilhados, cheios de máquinas e ferramentas, onde qualquer pessoa pode desenvolver seus projetos maker de forma colaborativa.
Crescia assim um movimento global, no qual segundo Dougherty “somos livres para imaginar um futuro melhor e perceber que somos livres para fazê-lo”.
Por que a cultura maker é tão importante?
A cultura maker trouxe uma quebra de paradigma ao tirar a exclusividade da indústria sobre a criação de produtos e levá-la para as mãos das pessoas comuns. Isso gera alguns impactos profundos, como esses:
Democratização do conhecimento
Antes, o conhecimento para criar e inovar estava nas mãos de poucos, geralmente grandes empresas ou instituições de ensino.
A cultura maker, por meio de ferramentas como impressoras 3D, softwares de design, e plataformas de compartilhamento de projetos, tornou o acesso ao conhecimento técnico mais fácil e abrangente.
Isso significa que agora mais pessoas podem aprender a projetar, construir e modificar seus próprios produtos.
Impacto na educação
Escolas e universidades começaram a incorporar a cultura maker em seus currículos, promovendo a aprendizagem baseada em projetos e a resolução prática de problemas.
Isso ajuda os estudantes a desenvolver habilidades críticas como pensamento crítico, criatividade e colaboração, preparando-os melhor para as demandas do século XXI.
Inovação e empreendedorismo
Com a barreira de entrada para a criação e inovação sendo reduzida, mais pessoas podem se tornar inventores e empreendedores.
Isso fomenta um ecossistema de inovação mais diversificado e inclusivo, onde soluções únicas e personalizadas podem surgir de qualquer parte do mundo.
Sustentabilidade e personalização
A cultura maker também promove a ideia de reparar e modificar em vez de descartar, contribuindo para práticas mais sustentáveis.
Além disso, permite a personalização em massa, onde produtos podem ser adaptados às necessidades e desejos específicos de cada indivíduo.
Comunidades e colaboração
Há uma forte ênfase na colaboração e compartilhamento de ideias dentro da comunidade maker.
Espaços de coworking e fóruns online são alguns exemplos onde pessoas com interesses similares se encontram para compartilhar recursos, conhecimentos e inspirações.
Desenvolvimento de habilidades técnicas e manuais
A cultura maker encoraja as pessoas a desenvolverem não apenas habilidades digitais, mas também manuais, resgatando o valor do “fazer com as próprias mãos”.
Isso tem um impacto positivo no desenvolvimento cognitivo e na satisfação pessoal.
Impacto social e comunitário
Projetos maker muitas vezes têm um forte componente social, visando resolver problemas locais ou fornecer soluções acessíveis para comunidades carentes.
Isso pode incluir tudo, desde a construção de próteses acessíveis até o desenvolvimento de tecnologias de baixo custo para agricultura em pequena escala.
O desenvolvimento de habilidades técnicas e socioemocionais
Habilidades essenciais para o século XXI como comunicação, colaboração, pensamento crítico e resolução de problemas.
A habilidade de comunicar efetivamente conceitos complexos e processos técnicos é crucial.
Uma sociedade mais participativa, onde as pessoas assumem maior controle sobre a tecnologia
Em vez de serem meros consumidores de tecnologia, as pessoas na cultura maker aprendem a ser criadoras e modificadoras.
Isso leva a uma compreensão mais profunda de como as tecnologias funcionam e promove uma atitude mais crítica e participativa em relação a elas.
Além disso, a capacidade de criar e modificar tecnologia empodera as pessoas a não só entenderem melhor o mundo digital, mas também a influenciarem seu desenvolvimento e aplicação de forma mais consciente e ética.
O estímulo contínuo à aprendizagem e à busca por novas ideias.
A cultura maker encoraja a exploração pessoal e a aprendizagem autodirigida.
Isso ajuda as pessoas a desenvolverem uma atitude de aprendizagem ao longo da vida, sempre buscando expandir seus conhecimentos e habilidades.
Muitas vezes, ela também envolve a interseção de diferentes campos, como arte, ciência, engenharia e tecnologia.
Essa interdisciplinaridade estimula uma abordagem mais holística para a aprendizagem e a inovação.
Todos esses fatores preparam os indivíduos para os desafios do futuro do trabalho, onde a criatividade e capacidade de aprender constantemente são ainda mais valorizadas.
Cultura maker na educação: como aplicar?
Diante desse potencial transformador, não demorou para educadores perceberem o quanto a cultura maker poderia positivamente impactar os processos de ensino-aprendizagem. Assim surgiu a Educação Maker.
Essa abordagem traz inspirações do construtivismo, onde o aluno constrói o conhecimento interagindo com o ambiente, e do construcionismo, que defende o aprender fazendo por meio da criação de projetos.
A educação maker pode ser aplicada desde o ensino infantil até a pós-graduação, com as devidas adequações.
Ela resgata o aprender-fazendo, que costuma ser deixado de lado conforme os estudantes avançam de série.
Diversas competências previstas na BNCC como criatividade, uso de tecnologias e trabalho em equipe são plenamente desenvolvidas nos projetos maker.
O maior benefício é reforçar o protagonismo do aluno, que se torna sujeito do processo educativo ao invés de mero espectador. Isso gera mais engajamento e motivação para ir à escola e aprender.
É importante ver a tecnologia como aliada nesse contexto. Impressoras 3D, kits de robótica e outras ferramentas digitais facilitam e potencializam os projetos, mas o foco deve estar sempre no aspecto prático e criativo.
Montando espaços e projetos maker
Para começar a adotar a educação maker, as escolas precisam definir seus espaços maker: locais onde os projetos práticos irão acontecer.
Pode ser desde um laboratório high-tech até uma simples sala de aula ou pátio adaptados.
O investimento em máquinas como impressoras 3D com certeza enriquece as possibilidades, mas há muitos projetos de baixo custo ou até sem uso de tecnologia que entregam ótimos resultados.
Veja algumas sugestões que funcionam muito bem em diferentes séries e idades:
Hortas verticais:
Criar pequenas hortas verticais com garrafas PET, madeira ou outros materiais é uma ótima opção maker desde o ensino fundamental.
As crianças têm contato com o ciclo da vida ao plantar, cuidar e colher os alimentos, além de explorar conceitos de ciências e sustentabilidade.
Customização de roupas:
Resgatar peças antigas do armário e dar nova cara a elas com tintas, estampas feitas à mão ou outros recursos criativos é uma sugestão interessante para os adolescentes.
Eles podem explorar identidade, moda e até questões sociais durante o processo.
Esculturas sustentáveis:
Construir esculturas e estruturas artísticas apenas com material reciclado como latas, embalagens, papel e plástico transforma lixo em arte ao mesmo tempo que desenvolve sensibilidade estética e consciência ambiental.
Confecção de brinquedos:
Os pequenos adoram brincadeiras imaginativas. Produzir seus próprios brinquedos com madeira, tecido e outros itens estimula essas habilidades socioemocionais.
Eles também aprendem sobre persistência e lidar com frustrações quando algo não funciona da primeira vez.
Outros exemplos ainda, poderiam ser:
- Maquetes com Lego
- Animação em Stop Motion
- Fabricação de cosméticos naturais
São infinitas as alternativas criativas parabotar a “mão na massa”. O empoderamento do aluno para criar e resolver desafios deve ser o norte.
Cultura Maker e Ciência: parceiras na inovação
Um ponto pouco explorado é a potente relação entre cultura maker e ciência. Afinal, o movimento maker estimula exatamente as mesmas habilidades e mentalidades necessárias para o avanço científico: experimentação, pensamento analítico, resolução de problemas complexos.
Diversos projetos makers acabam abordando conceitos STEM de forma prática. Criar um pequeno drone, por exemplo, envolve programá-lo, entender princípios físicos de voo e resistência de materiais.
Outra grande contribuição é quebrar barreiras e aproximar grupos historicamente afastados da ciência, como mulheres e minorias étnicas.
Ao tornar a aprendizagem mais participativa e inclusiva, mais estudantes se interessam por carreiras científicas.
Assim, fica evidente que apostar na educação maker é um caminho promissor até mesmo para melhorar o ensino de ciências.
A escola se conecta com a prática científica real, e forma estudantes mais curiosos, inventivos e preparados para lidar com desafios complexos – exatamente as habilidades necessárias a pesquisadores e cientistas.
O movimento maker estimula alguns dos principais elementos do método e pensamento científico:
- Experimentação: os projetos makers envolvem muito teste e erro, prototipação, validação de hipóteses. Isso aproxima muito os estudantes do trabalho de cientistas.
- Pensamento analítico: ao construir, consertar e modificar objetos, os alunos precisam raciocinar de forma lógica, estabelecer relações de causa e efeito, entender processos.
- Resolução de problemas: encontrar soluções criativas e inovadoras para desafios é uma constante no universo maker. Essa é uma habilidade essencial para cientistas.
Além disso, muitos projetos makers acabam abordando conceitos científicos das áreas de Física, Química, Biologia, Matemática e até ciências humanas. Construir um pequeno robô ou drone, por exemplo, envolve conhecimentos de mecânica, eletrônica, programação.
Assim, pode-se afirmar que cultura maker e ciência andam lado a lado.
Ao aproximar os estudantes do fazer e da experimentação, a educação maker abre as portas para carreiras e ambientes científicos, além de formar uma mentalidade mais curiosa, questionadora e inventiva – características de grandes cientistas.
Portanto, escolas que desejam melhorar seu ensino de ciências, especialmente nas séries finais, têm muito a ganhar adotando a cultura maker, que serve de ponte perfeita entre sala de aula e laboratório.
Conclusão: maker, o futuro da educação
Diante de tudo que apresentamos, fica evidente que a cultura maker traz uma proposta extremamente rica e transformadora para a educação contemporânea.
Ela representa uma mudança profunda não só nos métodos de ensino-aprendizagem em si, mas na forma como os estudantes se relacionam com a tecnologia e adquirem as habilidades necessárias para o futuro do trabalho e da vida em sociedade.
Ferramentas digitais, espaços criativos, projetos práticos e interdisciplinares devem fazer parte do dia a dia. Só assim as novas gerações desenvolverão seu pleno potencial criativo e colaborativo.
E você, concorda que essa transformação maker é fundamental? Deixe abaixo nos comentários sua visão sobre esse movimento e como sua escola poderia se engajar ainda mais!